20 de fevereiro de 2011

Sentimento estranho

Gente, eu realmente desapareci! Estive por aqui há quase 2 meses e não voltei mais. Prometi site e não cumpri... Peço desculpas, mas não tive tempo ainda... muito trabalho e, sinceramente, muito calor!

Mas algo aconteceu na última semana que não pude deixar passar sem registrar aqui e compartilhar com vocês. Esse blog é a minha válvula de escape, vocês sabem disso.

Bem, o meu escritório fica num shopping. Atrás desse shopping passa um rio. E logo atrás desse rio, fica o muro de um grande supermercado.  Ou seja, o rio separa o shopping e o supermercado, entenderam?

Ocorre que, existe uma pequena faixa de terra, de cerca de 1,5m, entre o leito do rio e o muro do supermercado. Nesta estreita faixa instalaram-se dezenas de famílias, formando ali uma comunidade carente.

Os barracos agrupavam-se no estilo "palafitas", suspensos sobre as águas, e o cheiro de esgoto tornou-se insuportável. Dezenas de crianças, cães, sacos de lixo, móveis boiando naquele rio que, há poucos 20 anos atrás já abrigara jacarés.

Qual o meu sentimento ao passar diariamente e ver aquele quadro? Uma mistura de pena e revolta. Pena daquelas crianças naquela situação deplorável ao alcance das minhas inertes mãos. Revolta em ver pessoas tão acomodadas em viver semana após semana naquele lugar miserável, empunhando seus copos de cerveja e assistindo, religiosamente, aos jogos de futebol na TV. Revolta, claro, sempre, em relação ao Poder Público que não toma nenhuma providência.

E então veio o choque! Que surpresa! O Poder Público atuou!!

Simplesmente não acreditei! A Prefeitura estava removendo as famílias daquele local. Um caminhão da Comlurb encostou para fazer a mudança, polícia militar garantindo a paz da remoção, e mais um monte de gente fazente não-sei-o-quê.

E foram saindo... família após família... e eu assistindo de camarote, com um sentimento agora de alívio, muito alívio. E devo dizer, com muito egoísmo, muito mais por mim, que não precisaria mais vê-los, do que por eles, que estavam sendo levados para um lugar mais digno (um conjunto habitacional em Campo Grande, mediante indenização de R$ 5.000).

É feio dizer isso, eu sei... mas creio que é o sentimento do carioca em geral. Nós já perdemos, há muito tempo, a capacidade de nos compadecermos do nosso próximo. Nossos problemas sociais atingiram uma escala tão astronômica, que agora só pensamos, friamente, em remover o "lixo social". Não são pessoas, são estatísticas.

Eu lutei contra esse sentimento naquele momento. Não quis sentir somente o alívio esgoísta. Quis me alegrar por eles também. Então pensei nas crianças e consegui. Senti-me profundamente feliz porque agora elas teriam saneamento básico e condições básicas de higiene para viver.

Barracos destruídos, quilos de entulho e lixo deixados para trás.

Uma pequena vitória social para a nossa cidade.


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