19 de outubro de 2009
Salve Geral e o último sábado no Rio
Sei que tenho leitores de outros estados desse imenso país, pessoas que eventualmente me contactam elogiando o blog e as dicas postadas sobre o Rio de Janeiro.
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Realmente não há, pra mim, lugar no mundo mais maravilhoso que a minha cidade. O carioca tem, indiscutivelmente, uma identidade única. A vida no Rio é mesmo peculiar, seja pelo despojamento, seja pela paisagem, sejam pelos hábitos que só aqui cultivamos.
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E não é uma coisa setorizada na bolha da Zona Sul. Os cariocas dos subúrbios e outras áreas também são tão (ou mais) cariocas que os garotos de Ipanema. Todos temos orgulho da nossa cidade e o que ela representa para o Brasil. Na verdade o Rio reflete a "cara" do Brasil pro povo lá de fora.
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Só que o que aconteceu anteontem - sábado dia 17/10/09 - foi dramático demais. Poderia tentar descrever em algumas palavras: caos, anarquia, desproteção, absurdo.
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Aí o dia de ontem - domingo - coincidiu com o sepultamento de um conhecido que faleceu inesperadamente num acidente de automóvel, exatamente no mesmo cemitério onde estavam sendo velados os corpos dos dois policiais que estavam dentro do helicóptero atingido. Havia, no mínimo, uns 200 policiais militares no cemitério prestando suas homenagens aos falecidos. Essa imagem me ajudou a ver que o que tinha acontecido na tela da TV era verdade. Às vezes parece que assistimos às notícias televisionadas como algo irreal, abstrato, mais um filme de guerra. Mas foi real, muito real.
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Bem, então a imprensa começa a levantar questões como "teria a ordem de invasão do Morro do Macaco (e atos de vandalismo posteriores) partido de Marcinho VP de dentro do presídio de Catanduvas - PR?". Cara, a cana é duríssima lá. É o primeiro presídio federal do país. Um presídio de segurança máxima que somente abriga a nata da marginalidade brasileira, dentre os quais muitos chefes do tráfico carioca. Construído para revolucionar o sistema penitenciário brasileiro. Teria?!
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Totalmente a calhar, o Brasil já tem seu representante no Oscar 2010: o filme “Salve Geral”, protagonizado por Andréa Beltrão e dirigido por Sérgio Rezende. O filme se passa em maio de 2006, quando o Primeiro Comando da Capital sitiou a cidade de São Paulo, com mais de 25.000 presos rebelados, 251 ataques (inclusive a unidades policiais) e centenas de mortos.
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A arte imita a vida. E a mesma situação se repete: o crime organizado mostra que é coordenado, que consegue mobilizar eventos em diversos pontos da cidade, com facilidade.
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O termo “Salve”, na gíria de criminosos paulistas, significa “recado”, o que nos leva a compreender bem o porquê de chamar aquele “11 de setembro brasileiro” como um “Salve Geral”. Será que o Rio de Janeiro entrará para a história como protagonista de mais um 11 de setembro brasileiro? Creio que a resposta é positiva. Mais uma triste página no diário desta castigada cidade. Deus nos ajude.
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