12 de julho de 2009

Bem-vindo ao inferno

Não tenho como descrever o furacão de mudanças que estão ocorrendo na minha vida nos últimos tempos.

De muitas coisas que estão acontecendo, uma posso destacar: meu envolvimento com ações sociais, primeiro no âmbito da igreja (como postado abaixo) e, agora, como voluntária nos trabalhos do Rio de Paz.

Já ouviram falar nessa ONG? É uma organização de caráter civil (fundada na minha igreja) com o objetivo de discutir a defesa aos direitos humanos e protestar contra a violência no Rio de Janeiro, realizando protestos pacíficos e emblemáticos contra o número de homicídios, como as 700 cruzes fincadas nas areias de Copacabana, denter outros.

O Rio de Paz está agora dedicando-se a ações mais pragmáticas, como o desenvolvimento de um programa de assistência a parentes de vítimas e, nas últimas semanas, voltou-se para uma realidade duríssima e esquecida por todos: a condição de existência sub humana da população carcerária carioca.

Isso mesmo. Uma ONG criada para discutir e defender os direitos humanos de todos, vítimas e criminosos.

Qualquer pessoa com o mínimo de consciência jurídica e política sabe que um criminoso deve, sim, pagar judicialmente por seu crime, sem que isso implique, contudo, humilhação, insalubridade, degradação.

Por isso, um grupo de médicos, dentistas e advogados esteve ontem na Polinter de Neves - São Gonçalo (uma carceragem cuja superlotação foi denunciada à OEA recentemente, tem noção disso?) num mutirão para dar um "pingo" de dignidade a essas pessoas que, na visão de muitos, mereceriam a morte.

Entretanto não é com a morte que a nossa Constituição Federal pune os infratores da lei. Ao contrário, nosso Estado de Direito tem por princípio fundamental a dignidade da pessoa humana, ainda que seja um traficante, pedófilo, estuprador, homicida.

A Polinter de Neves é absurda, surreal. Superlotada, fétida.

Sabe a quanto espaço um preso tem direito nesse local, que era um estábulo? 25 cm²!!!! centímetros...

O Estado é falido? Não importa. O sistema carcerário é falido? Não importa. Esse tipo de trabalho é enxugar gelo? Não importa.

Nossa sociedade não tem uma cultura de participação popular na política e nas questões sociais. Não somos pró-ativos. Vivemos indiferentes, alheios, revoltados com o governo e acuados pelo medo. Essa mentalidade é que precisa mudar.

A questão é o agora: não é admissível que pessoas vivam, sob a custódia do Estado, nessa condição.

Então se viver nesse mundo é apenas uma passagem, vamos fazer dessa vida o melhor que pudermos. Se for para entrar no inferno para valorizar o que temos, que seja. Bem-vindos ao inferno.

Na verdade, o que separa eu e você dessas pessoas é uma linha muito tênue (para quem crê em Deus, essa linha é a graça divina).

Se as circunstâncias da minha vida foram mais privilegiadas do que 90% da população brasileira, estou certa de que não foi por acaso. Há um propósito na minha vida e não vou disperdiçá-la dentro da minha bolha de conforto.

Se você conseguiu ler esse post até o fim, vale a pena ver mais informações em http://robertatrindade.wordpress.com/2009/04/18/superlotacao-na-carceragem-de-neves-e-denunciada-a-oea/.

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