27 de julho de 2009

Memórias de um tempo feliz

Quando rompi a bolha de conforto da casa da minha mãe para me lançar em uma nova fase, nunca imaginei que seria uma mudança tão radical e profunda na minha vida e em mim mesma.

Mudei-me para um apartamento conjugado no Flamengo sob o pretexto de ficar mais perto do trabalho e gastar menos tempo e nervos no trânsito para o Centro da cidade todos os dias. Contudo havia mais por trás dessa mudança, desejos que nem eu mesma sabia que tinha.

Após 3 anos de vida adulta na minha própria casa, tomei um gosto enorme pela minha privacidade, meu espaço, minhas escolhas, minhas decisões. Tornei-me mais egoísta? Talvez sim, por um certo ângulo. Mais que isso: tornei-me independente.

Meu conjugado foi palco de momentos felizes: festinhas com o pessoal do trabalho, reuniões da Rede Amélia e momentos meus, só meus, preciosos momentos de solitude, sem que isso implicasse solidão.

Naquele precioso espaço, que agora era a minha casa, cuidei de cada detalhe com carinho. Organizei, decorei, mobilhei. Tudo se encaixava como num quebra-cabeça, uma bênção de Deus.

Além do apartamento, aprendi a amar e viver num bairro que até então me era abolutamente estranho. Adaptei-me muito bem naquele estilo de vida simples e único do Largo do Machado, um lugar que ainda guarda as características do Rio Antigo, com seu comércio de rua, pessoas andando e carregando sacolas de compras, indo ao cinema à pé, incomparável com bairros mais modernos da cidade.

Sempre fui uma pessoa de fácil adaptação às transições. As metamorfoses da vida nunca me pesaram. Sempre me enquadrei bem ao que me foi apresentado. Mas ali, naquele lugar, realmente me sentia mais "eu", como se encontrasse uma identidade.

"Então sou cosmopolita", pensei. É isso que me deixa satisfeita: tudo ao alcance das mãos (e pés) - lojas, academias, supermercados, lazer, a qualquer hora.

Cresci muito, o suficiente para não ter medo de mudar novamente. Decidi sair do meu trabalho e dedicar-me, dessa vez com afinco, aos estudos. Já passou da hora de passar em um concurso público. E tal mudança teria uma consequência: voltar pra casa da minha mãe.

A ruptura teve sim sofrimento. Não era um apego material, mas emocional ao local e todos os brilhos que ele representou pra mim: o símbolo de uma vida adulta.

Flamengo, com você aprendi o que é administrar (ou não) um orçamento, ter responsabilidades e prioridades. Descobri as delícias da melhor comida árabe da cidade, da boemia de tantos bares, das facilidades da Zona Sul (ainda que sem o charme e riqueza de Ipanema e Leblon), a respeitar e ser mais gentil com os idosos, a ter mais compaixão de tamanha população de rua, a amar o metrô, a caminhar no aterro, a fazer compras com carrinho de feira, a frequentar as galerias Condor e São Luiz.

Por tudo isso, o Flamengo, a "terra do cocker velho", e tudo o que representa pra mim como pessoa, estará pra sempre no meu coração. Obrigado, Senhor, pelo privilégio dessa experiência.

2 comentários:

Martha Soares disse...

É o Flamengo e sua magia!
Relembrei o tempo que morei em Copacabana.
Das delícias do amanhecer e do pôr-do-sol no Leme.
Da curva sinuosa da princesa do mar.
Da academia de ginástica, era bem pertinho da praia...
Ah! Os idosos de Copacabana, parece que lá a terceira idade é benvinda, estão sempre sorridentes...
As lojas! QUE CONFORTO. nUNCA FALTA NADA QUE FOR PRECISO, LÁ SEMPRE TEM.
Os supermercados, os clubes, as praças 9são muitas), os mendigos, os drogados, a luz, a atmosfera cosmopolita, a night de Copa, os teatros, os cinemas, o apart hotel- número 500- apt. 1513, a floresta lá atrás, o túnel, o Rio Sul, os empregados do apart gentis e amigos, a minha casa que nunca mais poderei retornar....
Ah! Mas o que construi depois disto, é muito!
Para se reconstruir é necessário se virar pelo avesso, refazer, viajar na oportunidade dada.
No início é difícil, mas na reconstrução destas perdas a gente aprende a perceber o que está à volta com a mudança e aproveitar a oportunidade dada.
Te amo -Tia Martha

30/7/09 20:36
Anônimo disse...

Oi, Bruna!!!!
Tempão que não leio seu blog. Fiquei com saudades ....
Entendo o que vc está sentido ao sair de uma casinha tão lindinha. Mas, ... Tempos bem melhores virão, com certeza!!!!

Saudades de vc... Beijos!!!!!!!

Alessandra

5/8/09 13:56